A utilizacao da expressao “sociedade de risco” para designar a sociedade contemporânea constitui o titulo de uma obra ja considerada classica do sociologo alemao Ulrich Beck (1992 [1986]), e tem vindo a ser amplamente difundida no quadro dos debates sobre as mudancas sociais da actualidade. Na tentativa de ultrapassar outras tipificacoes da sociedade contemporânea, como “pos-fordista” ou “pos-moderna”, esta proposta de Beck tem suscitado debate de ideias com outros sociologos contemporâneos como, por exemplo, Scott Lash e Anthony Giddens (Beck, Giddens e Lash, 2000 [1994]). Longe de pretender reproduzir este debate, adoptamos o termo “sociedade de risco” no titulo deste texto porque consideramos que as relacoes entre o ensino superior e mundo do trabalho e emprego sao um dos dominios da realidade social em que a “reflexividade” e a “destradicionalizacao”, enquanto duas caracteristicas marcantes da sociedade contemporânea (ainda que possam ser entendidadas de modo ligeiramente distinto por cada um dos autores), se tem vindo a observar. Num contexto de mudanca das relacoes entre ensino superior e emprego, a expressao “sociedade de risco” pretende significar a necessidade de aceitar que a incerteza e a imprevisibilidade sao cada vez mais inerentes as nossas vidas individuais e colectivas, desafiando a racionalidade tecnica e cientifica tipica de outras etapas societarias e exigindo uma maior reflexividade na construcao das biografias de cada individuo e dos nossos destinos colectivos. Sabemos como o trabalho tem ocupado diferentes lugares em diferentes modelos de sociedade. Na Antiguidade trabalhar era um factor de exclusao social, mas na Modernidade o trabalho remunerado e o principal elemento de referencia identitaria e factor de inclusao social (Beck, 2000 [1999]). Na contemporaneidade e esta heranca do trabalho como elemento primordial de referencia identitaria que nos provoca dificuldades, num contexto em que o acesso ao trabalho remunerado nao se encontra nem assegurado nem garantido a nao ser por periodos limitados das trajectorias dos individuos, traduzindo-se num clima de democratizacao da inseguranca no emprego (Brown, 2003). O que se verifica e que, se no passado as formas burocraticas de organizacao pressupunham carreiras marcadas pela seguranca de emprego e pela progressao, hoje em dia emergem formas alternativas de organizacao que desafiam os criterios de sucesso pessoal no mundo contemporâneo e tornam impossivel aos individuos, designadamente aos diplomados de ensino superior, planear as suas carreiras a longo prazo, dada a imprevisibilidade e incerteza que caracterizam o mundo actual.